segunda-feira, 9 de maio de 2016

Com foco no combate ao estigma e ao preconceito, AL lança frente de enfrentamento ao HIV/aids

Via Sul 21

Mais de 30 anos depois de ter o primeiro caso registrado no Rio Grande do Sul – em 1983, no Sanatório Partenon, em Porto Alegre -, o estigma e o preconceito que cercam o vírus HIV/aids ainda são muito presentes no Estado, dificultando que os próprios portadores da doença busquem tratamento e, consequentemente, permitindo o seu alastramento. Há pelo menos 10 anos o RS é o Estado com o maior número de casos no país. Para tentar mudar essa realidade, foi lançada nesta terça-feira (3) a Frente Parlamentar de Enfrentamento ao HIV/aids, uma iniciativa do deputado estadual Adão Villaverde (PT) em parceria com movimentos sociais e representativos de portadores da doença.

Segundo o boletim epidemiológico sobre HIV/aids, divulgado em novembro passado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), o RS registra 38,3 casos de aids para cada 100 mil habitantes, o que representa quase o dobro da média nacional, 19,7. A maior concentração de casos está na região metropolitana e, em especial, em Porto Alegre, onde há 92,9 casos por 100 mil habitantes.
Maria Letícia Rodrigues Ikeda, médica da SES e coordenadora do programa de DST/aids em Viamão, pondera que não há um único fator que explique o porquê dos números de contaminação serem tão elevados no Estado. “A gente não tem uma explicação absoluta e exata. Nós temos uma doença importante, de transmissão sexual, e vem tendo, ao longo dos últimos anos, algumas dificuldades em estabelecer políticas públicas eficazes para controlar essa epidemia. Isso então gera esse aumento significativo, essa manutenção desses índice”.
Por outro lado, ela afirma que o Estado apresenta uma situação de diagnóstico tardio, com boa parte dos pacientes descobrindo a doença quando já estão há bastante tempo infectados. Ela também aponta que há dificuldades no cuidado continuado dos pacientes. “Na maioria dos locais, os serviços de atendimento à aids estão sucateados. Nós temos poucos profissionais atendendo HIV no RS para o tamanho da nossa epidemia”, diz. “No caso das pessoas que não são acompanhadas adequadamente, por exemplo, a gente não consegue perceber uma boa adesão ao tratamento e intervir precocemente. As pessoas ficam resistentes ao tratamento e o vírus se perpetua”.
Rosinéia da Rosa, representante das entidades que reúnem pessoas vivendo com a HIV/aids (PVHA), concorda que o alto índice de casos deve-se principalmente a políticas públicas equivocadas e falta de debates que ajudem a combater estigmas e informar corretamente a população.
Ela espera que a frente parlamentar possar abrir espaço para que haja, nos serviços de saúde, melhor atendimento, melhor acolhimento, maior divulgação da prevenção. “Está muito banalizado”, reclama, apontando ainda que, nos próprios postos de saúde, o atendimento é precário. Ela reclama que o tratamento aos portadores de HIV nesses locais é feito como se fosse “qualquer outra doença, como hipertensão, diabetes”. “É muito mais extensa do que isso justamente pela medicação que a gente toma, que causa muitos problemas”, pontua.
A ativista ainda reclama que o Estado adota uma política de “testar e tratar”, mas acaba deixando a desejar no acompanhamento aos pacientes. “O que a gente diz é que o governo quer testar e tratar. Não é só testar, aí dar um diagnóstico de positivo, largar e o paciente tem que esperar dois, três meses para a primeira consulta com o infectologista. Não, seria testar, acompanhar e tratar”, afirma.
Matéria na íntegra em http://www.sul21.com.br/jornal/com-foco-no-combate-ao-estigma-e-ao-preconceito-al-lanca-frente-de-enfrentamento-ao-hivaids/.

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