Reunião junto à rede de saúde local |
O curso se estende aos dias 17 (das 8h30min às 17h) e 22 de outubro (das 18h às 21h30min). Só receberão certificado aqueles que tiverem o mínimo de 75% de presença.
Antes de colocar a mão na massa, foi preciso articular com a rede de saúde local, definir como garantir a presença do público-alvo (agentes de saúde, lideranças comunitárias e demais militantes sociais) e estabelecer algumas prioridades da região.
Focada em construir essas estratégias em conjunto com quem está presente nas comunidades, a coordenadora do Conexões Neusa Heinzelmann e a assistente de coordenação do projeto Silvia Alóia vêm realizando reuniões junto ao Colegiado Distrital da Glória/Cruzeiro/Cristal. Os três bairros, localizados na zona Sul da Capital, serão o foco das discussões desse terceiro módulo de cursos. O projeto já passou por Viamão e Canoas.
Sobre o Conexões
O projeto Conexões – Estratégias Integradas Contra o HIV/AIDS e a Violência de Gênero foi pensado a partir da campanha internacional “Women Won’t Wait – Mulheres Não Esperam Mais – Acabemos com a violência e a AIDS Já”, criada em 2006, para abordar a relação entre Violência contra a Mulher (VCM) e a AIDS.A partir de dados coletados em pesquisas promovidas, no Brasil, pelas organizações não governamentais Coletivo Feminino Plural e Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero e apoio da Rede Feminista de Saúde, com recursos da Unaids, constatou-se que há lacunas de informação quanto à feminização do HIV e sua relação com VCM.
A feminização do HIV/AIDS e a VCM têm se configurado como duas epidemias de elevada magnitude no Brasil, conectadas pelas desigualdades nas relações de gênero. Este projeto será desenvolvido em Canoas, Porto Alegre e Viamão, municípios que apresentam dados preocupantes quanto ao HIV e a violência.
Pretende-se, com isso, auxiliar na compreensão do problema, capacitar e informar agentes da área de saúde e direitos da mulher assim como articular as redes de atendimento em saúde e atenção à violência. Para tanto, serão identificadas atrizes e atores sociais, entidades e serviços voltados para estas temáticas existentes nos três municípios gaúchos. Conselhos de Saúde e de Direitos da Mulher são parceiros deste projeto.
Como resultado, busca-se ampliar o número de agentes envolvidos, sensibilizados e instrumentalizados para perceber e atuar percebendo as conexões/interseções dois grandes problemas, impactando o Sistema Único de Saúde e as políticas públicas em geral.
Mas qual a conexão entre as duas epidemias?
Todas as evidências apontam que há uma feminização da epidemia de aids, ou seja, um crescimento do número de casos entre as mulheres, principalmente entre as jovens. Nos últimos anos, a proporção de mulheres com HIV/AIDS aumentou de 33 para 48%. Ao afirmar que há uma feminização se quer dizer que as brechas existentes entre os sexos desde o início da epidemia se reduziram drasticamente, com impactos fortes na vida e saúde das mulheres.
Hoje se sabe que a proporção entre os sexos já se aproximou muito entre homens e mulheres e em algumas faixas etárias já se inverteu. Entre os/as jovens de 15 a 24 anos infectados pelo HIV, 60% são mulheres. Por sua vez, a violência contra as mulheres por razão de gênero tem desafiado as políticas públicas pela sua intensidade e complexidade. Segundo as pesquisas mais importantes do país, a cada 25 segundos uma mulher sofre uma violência (FPA, 2012). E em dez anos 40 mil mulheres foram assassinadas (Mapa da Violência, 2013).
O que explica essas violências são os padrões culturais baseados nas desigualdades de poder entre homens e mulheres em sociedades de caráter patriarcal. Relações de poder desequilibradas desencadeiam desigualdade de poder nas relações afetivas, conjugais e/ou íntimas e em consequência dificuldade de abordagem nas questões de sexualidade, da confiança, impedindo a e proteção nas relações sexuais. A naturalização da violência de gênero em nossa sociedade resulta em impunidade e dificuldade de sua prevenção e enfrentamento.
Outras formas de violência que envolvem o mercado, como a exploração sexual, o tráfico de mulheres e meninas e o turismo sexual contribuem sobremaneira, pois refletem uma dimensão das relações de gênero estruturadas a partir da dominação e “desqualificação” feminina. Ao entrarem nesse universo as mulheres são transformadas em mercadorias, destituídas de poder, submetendo-se a relações sexuais não consentidas, ao uso de drogas, vindo a infectar-se.
Assim como a vivência da violência de gênero produz sofrimentos, a vergonha, o afastamento social e a própria anulação enquanto sujeita de direitos, a vivência das mulheres que se infectam com o HIV e desenvolvem a doença (Aids) é produtora de estigmas, humilhações, rejeição social e culpabilização. Muitas mulheres já conseguem romper com essas duas situações, mas é preciso que as politicas públicas sejam capazes de perceber tais conexões e intervir de forma integral.
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