Aids e violência de gênero caminham juntas – oficina aborda como enfrentá-las em Canoas/RS
Projeto da ONG Coletivo Feminino Plural vincula-se a Campanha Internacional
A Organização Mundial da Saúde tem abordado a violência de gênero contra as mulheres e a disseminação do HIV e da Aids no mundo como duas epidemias-irmãs em seus Relatório Mundiais sobre Violência e sobre Aids. Esse tratamento fica mais evidente quando se dá como exemplo a situação feminina na África e na Ásia, em que o grau de violação dos direitos humanos das mulheres é extremo, no entanto o conceito vale para todo o planeta, e também para o Brasil. A desigualdade entre homens e mulheres dificulta a prevenção da violência assim como a prevenção do HIV. E mulheres que vivem com o vírus são mais predispostas a sofrer discriminações e estigmas, alimentando um sistema injusto. Abordar essas duas epidemias de forma conjunta pelas politicas públicas é o que objetiva o projeto Conexões – ações integradas de enfrentamento às epidemias de violência de gênero e da Aids, implementada pela ONG Coletivo Feminino Plural, com recursos da Secretaria Estadual de Saúde do RS e apoio das Prefeituras de Canoas, Viamão e Porto Alegre.
Este projeto
em funcionamento desde 2014, se desenvolve nos três municípios da
Região Metropolitana de Porto Alegre, onde a epidemia do HIV e da
Aids está entre as maiores do país e onde a violência contra as
mulheres também vem apresentando índices elevados. É uma ação
vinculada à Campanha internacional “Mulheres Não Esperam Mais”,
reconhecida pela Unaids como uma boa prática de saúde. Nesta
quinta-feira, às 13h30, dia 11
de junho, inicia a segunda
etapa do projeto em Canoas, na Unilassale, com o treinamento de
profissionais das redes de saúde e de atendimento às mulheres que
vivem em situação de violência. A primeira etapa foi em Viamão no
mês de abril.
Aberta também
a interessados, a Oficina “Desvendando conexões entre o HIV/Aids e
a Violência de Gênero” ocorre no Auditório Unilassale e segue
até o mês de julho. Nesse período serão debatidos os indicadores
de saúde da mulher e violência no município, assim como
estratégias de abordagem que permitam visão ampla do adoecimento e
morte da população feminina. Um dado importante é que a Aids é a
primeira causa de morte entre mulheres na idade fértil em Canoas e
150 mulheres buscam atendimento no Centro de Referência para
Mulheres Patricia Esber, 45 novos ao mês, no num total de 1800 nos
últimos três anos, quando o serviço foi implantado. Considerando
os dados de 2007 a 2013 no município, foi notificado no Sinan um
total de 783 casos de AIDS. É possível observar uma estabilização
entre 2008 e 2009, uma queda em 2010 com um posterior aumento, que
chega ao seu ápice em 2012 (53,0 casos para cada 100.000
habitantes).
Programação:
Abertura e aula inaugural – 11/6 , 13h30 – Auditório
Unilassale (Auditório Irmão Arsênio Both, na Av.Victor Barreto, 2288 -prédio 1.- Canoas)
Outras oficinas – 18/6, 9/7, 16/7 – Local: Unilassale - Centro - Canoas
Informações pelo email: projetoconexoes.cfp@gmail.com
Contatos pelo fone: 51 81288647 (Neusa Heinzelmann, coordenadora do Projeto).
PARA SABER MAIS:
Sobre HIV e Aids
Em relação
ao HIV, estima-se que aproximadamente 718 mil pessoas vivam com o
vírus da Aids no Brasil, o que representa uma taxa de prevalência
de 0,4% na população em geral, dos quais em torno de 80% (574
mil) tenham sido diagnosticados. No ano de 2012, foram
notificados 39.185 casos de aids no Brasil. Este valor vem
mantendo-se estável nos últimos 5 anos segundo o Ministério da
Saúde (2013). De acordo com o Boletim Epidemiológico do órgão, a
taxa de detecção nacional foi de 20,2 casos para cada 100.000
habitantes. A maior taxa de detecção foi observada na Região
Sul, 30,9/100.000 habitantes, seguida pela Região Norte
(21,0), Região Sudeste (20,1), Região Centro-Oeste (19,5), e
Região Nordeste (14,8). Dentre as Unidades da Federação,
destacam-se as maiores taxas de detecção de casos de aids no Rio
Grande do sul (41,4), Santa Catarina (33,5), Amazonas (29,2) e Rio de
Janeiro (28,7). Embora alguns questionem o processo de feminização
da epidemia de aids, as evidências apontam para um crescimento do
número de casos entre as mulheres, principalmente entre as jovens.
De uns vinte anos para cá, a proporção de mulheres com Hiv/Aids
aumentou de 33 para 48%. Ao afirmar que há uma feminização,
não se afirma que as mulheres sejam ou serão a maioria entre
infectados, mas as brechas existentes entre os sexos desde o início
da epidemia se reduziram drasticamente, com impactos fortes na vida e
saúde das mulheres. Hoje se sabe que a razão entre os sexos
já se aproximou muito entre homens e mulheres e em algumas faixas
etárias já se inverteu. Entre os/as jovens de 15 a 24 anos
infectados pelo HIV, 60% são mulheres. Portanto, na plenitude da
vida, tanto laboral quanto reprodutiva, elas passam a conviver com um
vírus que ataca suas defesas e seu corpo, sua autoestima, sua
condição de resposta diante das violências e dominações de todas
as espécies.
Sobre a
violência de gênero
A violência contra as mulheres em razão das desigualdades de gênero é um grave problema no Brasil. Segundo a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, 43% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente; para 35%, a agressão é semanal. Considerado crime e grave violação de direitos humanos, em 2014, do total de 52.957 denúncias de violência contra a mulher, 27.369 corresponderam a denúncias de violência física (51,68%), 16.846 de violência psicológica (31,81%), 5.126 de violência moral (9,68%), 1.028 de violência patrimonial (1,94%), 1.517 de violência sexual (2,86%), 931 de cárcere privado (1,76%) e 140 envolvendo tráfico (0,26%).
A violência sexual, forma direta de exposição das mulheres ao HIV e à gestação indesejada pode estar afetando a cada ano 0,26% da população, o que indica que haja anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados no país, dos quais 10% são reportados à polícia. Em 2011, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, 12.087 casos de estupro no Brasil, o que equivale a cerca de 23% do total registrado na polícia em 2012, conforme dados do Anuário 2013 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Segundo o site da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, entre 1980 e 2010 foram assassinadas mais de 92 mil mulheres no Brasil, 43,7 mil somente na última década, um aumento de 230% segundo o Mapa da Violência 2012 divulgado pelo Instituto Sangari. Já o Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil revela que, de 2001 a 2011, o índice de homicídios de mulheres aumentou 17,2%, com a morte de mais de 48 mil brasileiras nesse período. Só em 2011 mais de 4,5 mil mulheres foram assassinadas no país.
Sobre a Campanha
A Campanha “Women Won’t Wait - Mulheres Não Esperam Mais – Acabemos com a Violência e a Aids Já” foi criada em 2006 para abordar a interface entre a violência contra a mulher (VCM) e a Aids. Composta por uma coalizão de organizações do sul econômico global, ao longo dos anos a Campanha se constituiu em um espaço privilegiado para a produção de conhecimento sobre o tema, assim como um locus estratégico para sensibilizar e articular novos parceiros e movimentos, incluindo organizações feministas e ONGs Aids, no debate sobre o que hoje se considera epidemias gêmeas e desafios globais.
A parceria entre Gestos - Soropositividade, Comunicação e Gênero, e o Coletivo Feminino Plural visa implementar no Brasil ações da Campanha Women Don't Wait, campanha internacional coordenada pela Fundación para Estúdio y Investigación de la Mujer – FEIM, da Argentina, e a Rede de Desenvolvimento e Comunicação das Mulheres Africanas - FEMNET, através, neste caso, de uma pesquisa sobre a intersecção entre a epidemia do HIV e da Aids com a violência contra as mulheres, com base na agenda do UNAIDS, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/AIDS, intitulada “Ação país para Mulheres, Meninas, Igualdade de Gênero e HIV”. No Brasil esta estratégia se articula com o Plano Nacional de Enfrentamento à Feminização da Epidemia do HIV e da Aids.http://
Coletivo Feminino Plural
Fundada em 1996, esta organização feminista atua na defesa dos direitos humanos e da cidadania das mulheres e meninas, enfatizando ações no campo da saúde, sexualidade, violência e cultura. Mais informações: http://femininoplural.org.br/
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