Coletivo Feminino Plural, entidade integrante da Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e do Consócio Nacional de Redes e Organizações para Monitoramento a Cedaw, participou ativamente, através do seu Ponto de Cultura Feminista Corpo Arte e Expressão, 1a Feira do Livro Feminista Autônoma, atividade que ocorre em paralelo à Feira do Livro de Porto Alegre. O objetivo desta FLIPEA é difundir a produção cultural e artística feminista, que na maioria das vezes não se insere no mercado editorial. Em razão desse pertencimento na atividade cultural, e por considerar que nenhuma violência contra as mulheres pode ficar impune e deve servir de alerta ao caráter patriarcal e machista da sociedade e do estado brasileiros, vem a público solidarizar-se com aquelas mulheres atacadas na noite de ontem, 1o de Novembro último, quando promoviam atividades culturais na Praça João Paulo, em Porto Alegre. E também denunciar e exigir de autoridades de todos os níveis, providências para a responsabilização dos autores das agressões, policiais militares integrantes da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.
Seguindo o roteiro do relato elaborado pelas mulheres diretamente atingidas pelo ato selvagem, desde o início da Feira ocorreram perseguições e agressões machistas e de caráter fascista, como ameaças, provocações e presenças hostis na Praça, que foram constatadas e enfrentadas a cada momento. Nós, do Coletivo Feminino Plural, fomos testemunhas dessas provocações. Na noite de 1o de novembro, entretanto, as ameaças se concretizaram.
Nessa noite ocorria o ensaio artístico de uma apresentação, com a
presença de em torno de 20 mulheres, quando uma viatura chegou com dois
policiais que vieram supostamente devido ao barulho de música. Eles
passaram a filmar e na medida em que as mulheres reagiam à sua presença,
passaram a intimida-las diretamente, o que gerou reações de proteção
entre as mulheres, como se organizar para ir embora e filmar a situação.
Em seguida chegaram outras viaturas com mais policiais que foram
extremamente agressivos e marcadamente racista desde o início e tentaram
deter uma das participantes de maneira violenta, o que desencadeou uma
série de agressões físicas por parte da polícia das quais nove mulheres
ficaram feridas, sendo que quatro gravemente e precisaram de atendimento
médico. Muitas agressões aconteceram de maneira simultânea, havendo
inclusive policiais que sacaram armas de fogo dizendo “eu vou queimar
você”. Entre as ameaçadas nessa situação, uma das mulheres inclusive
avisou que estava grávida, o que não foi relevante para os policiais,
que mantiveram a agressão. As mulheres que estavam com celulares foram
alvo específico de agressões, e dois celulares foram roubados pelos
policiais. Algumas das mulheres que tentavam fugir eram perseguidas e
derrubadas e não conseguiam sair das agressões dos policiais, caídas no
chão apanhavam com cacetetes e chutes, enquanto outras voltavam pra
colocar seus corpos como escudos para tentar protegê-las e tirá-las
dali. Essa cena se repetiu sucessivamente, e em meio a espancamentos com
cacetetes as mulheres conseguiram chegar até as proximidades do
Hospital de Clínicas, quando os policiais finalmente dispersaram.
No
dia 2, pela manhã, reunidas novamente no local e com marcas das
violências sofridas, o grupo que promoveu a Feira realizou uma extensa
reunião, na qual elaborou um balanço dos fatos, recebendo a
solidariedade de outros grupos de mulheres e de algumas lideranças
políticas e institucionais que se comprometeram com medidas.
No
final da tarde, reunidas em marcha, realizamos um manifestação na Feira
do Livro de Porto Alegre onde, na presença de um Batalhão de Choque da
Brigada Militar, denunciando os fatos e pedindo a solidariedade da
população e proteção para sua volta segura à casa. Dezenas de pessoas
demonstraram sua solidariedade, apoiando-as e acompanhando-as.
Este
triste e revoltante fato, para nós, demonstrou o caráter violento
discriminatório do poder policial do Estado do Rio Grande do Sul, já que
por atos e palavras revelou-se misógino, machista, lesbofóbico e
racista, ademais, profundamente antidemocrático. Uma ação que vai contra
todos os princípios e valores relativo aos direitos humanos
fundamentais e fere todas as mulheres em sua dignidade.
Por
considerarmos que quando uma mulher é atingida, todas nós somos, por
identificarmos como um crime de estado o que se perpetrou contra as
participantes da Feira do Livro Feminista Autônoma, nós, do Coletivo
Feminino Plural, denunciamos e exigimos do Estado providências firmes
que serão por nós cobradas, e da sociedade, a indignação e a
solidariedade que as mulheres merecem.
Não nos calaremos. Nossa
luta histórica pela democracia e por nossos direitos não pode ser
desprezada. Repetimos aqui o que gritam as companheiras: “Não mexam com
as formigas, todo o formigueiro pode se levantar!” É o brado das
mulheres que resistem.
Porto Alegre, 2 de Novembro de 2015
Coletivo Feminino Plural
Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre
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